domingo, 29 de agosto de 2010

Bela Horrível IV



A filha foi morar com o banana do pai. E sobre mim abateram tempos difíceis. Eu não entendia o porquê todos os "amigos" se afastarem. Eu não era mais convidada para os desfiles e os amantes me ignoravam. Implorei para que Ela voltasse, e podia até trazer o filho, contanto que o menino não me chamasse de vovó. Ela me disse que o bebê não me chamaria de vovó, simplesmente porque eu não era avó dele.

A partir daí, eu perdi tudo que julgava mais precioso: a casa e os empregados, o carro e o motorista, as capas e a fama. E por fim, o mais valioso, o bem que me deu tudo e me deixou com nada: a beleza. Sempre tive medo do tempo, e ele tão falaz e sorrateiro me tirou a beleza. Não que eu tivesse a idade avançada, mas também já não conseguiria fisgar outro bobo rico que pagasse as contas. Meus pais já tinham morrido, eu nem percebi. Meu irmão era um egoísta. E eu uma abandonada!

Entrei em depressão. Descobri que tinha um tumor na mama direita. Conto apenas com um deficitário sistema de saúde pública. E hoje escrevo da cama de um hospital fétido e inchado de pobres. Entendo que chega o meu fim. Meus cabelos já não tenho, os seios roliços murcharam, as pernas já não obedecem. Como pouco, falo pouco, não recebo visitas. Sei que serei enterrada como indigente. Entretanto não culpo ninguém, além de mim.

Hoje,logo pela manhã conheci uma pessoa. O ser humano mais feio e triste que já vi. Olhos sem brilho, boca deformda, a pele cansada. Foi a última vez que me olhei no espelho. Depois, desfaleci...

FIM

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